Região Metropolitana de Curitiba
A Região Metropolitana de Curitiba foi criada pela Lei Complementar Federal n.º 14, de 8 de junho de 1973, quando 14 municípios integravam a região. A RMC foi expandida ao longo dos anos, de acordo com o desmembramento dos municípios metropolitanos e aumento populacional e, atualmente, 29 cidades compõem a área.
O projeto Patrimônio Cultural Edificado da Região Metropolitana de Curitiba contempla as 13 cidades que integravam a RMC e foram abordados no Plano de Preservação do Acervo Cultural da RMC, estudo da COMEC de 1977. O nosso objeto de estudo se transformou nos últimos 40 anos, sendo um dos nossos desafios compreender como esse patrimônio cultural foi sendo incorporado ou, por vezes, rejeitado, na configuração atual dos municípios da RMC.
Dados e imagens: COMEC.
Antigo povoado de Nossa Senhora da Conceição do Cercado, depois conhecido como Timoneira, Almirante Tamandaré teve momentos conturbados politicamente entre 1930 e 1950, nos quais passou a integrar Rio Branco do Sul, Curitiba e, por fim, Colombo, do qual se emancipou em 1947. A partir de 1956, a cidade ganhou o nome de Almirante Tamandaré, em homenagem ao Marquês de Tamandaré, almirante e patrono da Marinha do Brasil. O município possui grande riqueza natural, na qual se estruturam boa parte de suas atividades econômicas e turísticas, impulsionando a preservação ambiental.
A equipe de 1977 pesquisou uma área significativa de Almirante Tamandaré, que também abrangia o território do atual município de Campo Magro. Em 2020 e 2021, a pesquisa de campo perpassou localidades como Marmeleiro, Juruqui, Lamenha Pequena, Taboão, Colônia Gabriela, Tranqueira, Areias, entre outras. A dificuldade com os dados existentes e a complexidade do território nos fizeram retornar duas ou três vezes a cada lugar. Assim, o auxílio da pesquisadora Janice Collodel Costa e da equipe da Prefeitura Municipal, que em alguns momentos percorreram as localidades junto conosco, foi preciso e importante. Se destacam, a preservação do edifício da Biblioteca Harley Clóvis Stocchero (01-001), a batalha familiar para a preservação do Moinho Weigert (01-005) e o emocionante encontro da família Siqueira com as imagens da sua casa antiga (01-025).
A pesquisa de campo constatou a preservação de 51% do inventário de Almirante Tamandaré, contra 32% de demolições, número que pode ser ainda maior, visto que 14% dos imóveis não foram encontrados. 3% permanecem preservados com modificações. O formulário de pesquisa enviado para o Departamento de Cultura do município apontou a existência de imóveis de interesse de preservação por parte da população, como a Capela Nossa Senhora da Luz (Marmeleiro), Piscina dos Padres (Botiatuva), Casa da Família Trevisan (Marmeleiro), Oratório Santo Isidoro (Lamenha Grande), Sociedade Educativa Tanguá e a Antiga Maternidade e Fórum (Centro). O documento também evidenciou a existência de manifestações culturais relevantes, como a Festa do Morango (São Miguel), Baile da Coroa (Colônia Antônio Prado) e Pastel de Varana. Publicada em 2010, a Lei n° 1497 dispõe sobre a preservação do patrimônio natural e cultural de Almirante Tamandaré e a instituição do Conselho Municipal de Cultura, que encontra-se desativado.
No momento da Oficina, realizada em 13 de maio de 2021 (via plataforma virtual), o contato com a Secretaria Municipal de Educação e Cultura e a participação massiva de professores evidenciou o enfoque educacional da preservação do patrimônio cultural, abrangendo temas como a história e a identidade do município frente a um contexto metropolitano que, por vezes, suprime as especificidades. A participação na oficina demonstra que isso tem sido trabalhado de forma ampla, com a proposta de inserir as temáticas no currículo escolar de maneira efetiva.
Abaixo, as fichas e fotografias dos imóveis inventariados em Almirante Tamandaré pelo PPAC-RMC (1977):
Inicialmente foi conhecida como Tindiquera, devido a uma grande tribo indígena que ali vivia. Atrativa por ser uma região de campos e matas em que predominavam a Araucária e a Imbuia, teve parte do seu território doado como sesmaria em 1668, dando início a ocupação com fins de cultivo da terra e criação de gado. A partir de 1870, a região recebeu grande contingente de imigrantes europeus, sendo primeiramente os poloneses e depois os alemães, italianos e ucranianos. Araucária foi criada oficialmente em 1890. Desde então, os ciclos econômicos locais passaram pela erva-mate, exploração madeireira, agroindústria, entre outros, sendo atualmente um dos principais pólos industriais do sul do Brasil.
Em 1977, a pesquisa para o inventário abarcou o território completo de Araucária, com destaque para a região central e para a área da Colônia Thomas Coelho, onde se concentravam a maior parte das casas de tronco construídas pelos imigrantes poloneses e seus descendentes. Em 2019, percorremos também as áreas de Guajuvira, Tietê, Campo Redondo, Roça Nova, Colônia Ipiranga e Colônia Cristina na busca dos edifícios registrados em 1977. A partir dos dados existentes, a grande dificuldade da pesquisa se deu pelo contexto de mudanças drásticas decorrente da implantação da Represa do Passaúna, com perdas de tecido urbano e, consequentemente, das edificações inventariadas. Se destacam, a preservação do edifício da Casa da Cultura (02-006), das duas pontes metálicas (02-014) e das edificações do Memorial da Imigração Polonesa (02-026 e 02-027) e a existência de casas de tronco e tábuas de madeira em seus contextos de origem, como as casas das famílias Sperandio/Valentini (02-055), Pirog (02-028), Burda (02-042), Novak (02-043), entre outras.
Em relação ao inventário de 1977, a pesquisa de campo constatou a preservação de 39% dos imóveis e 34% de demolição, inclusive de parte expressiva dos edifícios no entorno da Praça Dr. Vicente Machado. Não foi possível localizar 27% do inventário. Mesmo com a Lei n° 2970/2016, que dispõe sobre a política do patrimônio cultural do município e criou o Conselho Municipal do Patrimônio Cultural (COMPAC) e o Fundo Municipal do Patrimônio Cultural de Araucária (FUMPAC), não há ainda imóveis tombados pela municipalidade. O COMPAC reúne-se mensalmente e debate sobre a relevância de outros bens, públicos e particulares.
A Oficina virtual, realizada em 06 de maio de 2021, teve a participação da equipe do Arquivo Histórico Archelau de Almeida Torres e dos componentes do COMPAC. Ficou evidente o enfoque da preservação da memória urbana a partir do trabalho consistente e de longo prazo realizado no Arquivo Histórico, com ações de pesquisa, documentação, conservação e difusão de informações. O Conselho, por sua vez, expôs os desafios da implantação efetiva de políticas públicas voltadas para a preservação dos edifícios e dos bens culturais do município.
Abaixo, as fichas e fotografias dos imóveis inventariados em Araucária pelo PPAC-RMC (1977):