Plano de Preservação do Acervo Cultural da RMC de 1977
O Plano de Preservação do Acervo Cultural da Região Metropolitana de Curitiba (PPAC-RMC) se configurou em uma pesquisa contratada pela Comec e Ipardes que visava produzir conhecimento sobre o acervo edificado que, na Região Metropolitana de 1977, constituísse exemplares expressivos como representantes da arquitetura edificada dos séculos XVIII e XIX por diferentes grupos étnicos.
O contexto já apresentava urbanização mais intensa, implantação de indústrias e modificação dos hábitos e costumes, aspectos compreendidos como fatores determinantes da modificação do habitat, que acarretaram a destruição de uma gama desses exemplares.
O seu registro, por meio da metodologia do inventário, e o estabelecimento de diretrizes para a preservação do patrimônio cultural edificado tiveram o propósito de embasar as políticas públicas do Estado para a salvaguarda desses bens culturais e constituir instrumento de apoio cultural aos projetos de desenvolvimento econômico programados para essa área.
Sob a perspectiva de que o planejamento socioeconômico de uma região não pode prescindir da avaliação do seu acervo cultural, as etapas do Plano foram executadas no âmbito dos 14 municípios que compunham a Região Metropolitana de Curitiba. Nesse contexto bastante abrangente, foi necessária uma logística que rendeu aproximadamente 20.114 quilômetros rodados e 3.420 fotografias. Envolveu uma grande equipe para a pesquisa de campo e para a sistematização de informações, principalmente, profissionais e estudantes da área de arquitetura e história.
Os 14 municípios abordados foram:
Almirante Tamandaré
Araucária
Balsa Nova
Bocaiuva do Sul
Campina Grande do Sul
Campo Largo
Colombo
Contenda
Curitiba
Mandirituba
Piraquara
Quatro Barras
Rio Branco do Sul
São José dos Pinhais
O Plano se configurou em duas etapas distintas: o Inventário Analítico do Patrimônio Cultural e a definição de Diretrizes para a Preservação do Patrimônio Cultural.
Foi elaborado conforme modelos recomendados pela Unesco, aplicados em várias partes do mundo. Como ponto de partida, os pesquisadores recorreram às informações fornecidas pela iconografia antiga, tanto cartográfica, quanto artística; detiveram-se em textos relacionados a pesquisas históricas e descrições de viajantes; além das referências da tradição. Como base cartográfica, apoiaram-se no levantamento aerofotogramétrico realizado em 1972 pelo Governo do Estado.
O Inventário foi executado em cinco etapas distintas:
- Pesquisa documental
Foi realizada a triagem de dados bibliográficos e cartográficos baseando-se no estudo da documentação referente à ocupação da região. Os mapas históricos que tiveram maior serventia para a pesquisa foram os datados de 1728 e 1877.
Apesar da limitação do material bibliográfico e do raro aporte cartográfico, relatado no Caderno Técnico, foi possível a partir dessa etapa definir o quadro histórico da ocupação, sendo delineado o processo histórico do desenvolvimento regional. Foram consideradas as temáticas: Economia do Ouro, Sesmarias e Fazendas, Os Caminhos Antigos, Indústria da Erva-Mate, Imigração e A Madeira e o Processo de Industrialização.
Essa etapa resultou em uma lista de exemplares arquitetônicos que serviria como ‘fio da meada’ para a realização da pesquisa de campo, considerando a existência de residências, capelas, moinhos, engenhos etc. Porém, ao verificar as condições de aproximadamente 200 edifícios elencados inicialmente, concluiu-se que apenas aproximadamente uma dezena estava em condições de preservação.
- Pesquisa de campo preliminar
Foi executada uma varredura nos municípios, tendo como base a pesquisa documental e informações orais coletadas nas Prefeituras Municipais. Com a utilização de uma ficha específica, foram coletados dados preliminares, como: localização, características tipológicas, técnicas construtivas, estado geral etc. A documentação fotográfica foi registrada em fichas documentais de detalhes arquitetônicos. Essa etapa findou com a listagem de 1145 edificações que passaram por uma avaliação na etapa seguinte.
- Avaliação da arquitetura
Foram definidos, tendo como referência a legislação brasileira de preservação do patrimônio cultural, o quadro histórico regional delineado na pesquisa e as referências da comunidade, critérios de avaliação para o enquadramento dos edifícios em três categorias:
A – obras de características excepcionais segundo os critérios semelhantes aos ditados pela legislação do patrimônio brasileiro. São, portanto, incluídas nessa categoria as obras de valor histórico ou de valor artístico. Considerou-se o valor histórico não só o relacionamento com fatos ou figuras históricas, mas também sua correlação com os ciclos econômicos da história regional.
B – são aquelas obras de valor documental. Não possuindo qualidades excepcionais como peça histórica ou artística, apresentam, contudo, um valor documental essencial para a leitura da história da região.
C – abrangem as unidades desprovidas de qualidades plásticas, de significado histórico ou documental, mas que podem eventualmente ser incluídas em diretrizes de preservação a nível municipal na medida em que sua salvaguarda se torne importante para a comunidade.
Foram excluídas, nessa etapa da pesquisa, as edificações que não se enquadravam em pelo menos uma dessas três categorias.
- Pesquisa histórico-arquitetônica
Nessa etapa, a pesquisa de campo aprofundou a coleta de informações sobre alguns edifícios. Para as edificações classificadas nas categorias A e B foram realizados levantamento histórico e arquitetônico. Por meio de fontes orais e documentais foram coletadas informações sobre a história e a origem de cada uma. A partir de levantamentos arquitetônicos, foram elaborados desenhos em planta na escala 1:100. Para todas as edificações, as informações foram complementadas, assim como a documentação fotográfica.
- Análise qualitativa do inventário
Após reunir informações quantitativas e qualitativas, a última etapa delineou um quadro evolutivo da arquitetura pesquisada, definindo períodos – Anterior a 1850, 1850-1890, 1890-1920 e 1920-1940 – e uma classificação tipológica baseada em fatores como origem cultural, programa de uso, técnica construtiva e linguagem formal, classificando os edifícios em: arquitetura luso-brasileira; arquitetura neoclássica e eclética com vocabulário neoclássico; arquitetura romântica tipo “chalet”; arquitetura eclética com influência do imigrante alemão; arquitetura romântica tipo neogótica; arquitetura do imigrante polonês; arquitetura do imigrante italiano; arquitetura do imigrante alemão; e arquitetura aculturada.
Com as informações sistematizadas, foram definidas prioridades para a proposta de preservação em três níveis: 1) Fundamental, 2) Relativa e 3) Secundária, descritas nas Fichas do Inventário de cada uma das edificações.
No total, foram classificados e inventariados 760 edifícios na área de pesquisa, conforme descrito no Resumo do Inventário apresentado a seguir:
A definição de diretrizes para a preservação do acervo edificado se pautou no entendimento de que não era possível preservar todos os exemplares de arquitetura antiga existentes e na necessidade de definir linhas de ação diversas, devido à heterogeneidade do acervo e à diversidade na capacidade de atuação de cada município.
Entre os aspectos apontados para o estabelecimento de uma política eficaz de proteção da arquitetura antiga foi elencada a revitalização do uso, considerando a conciliação entre a necessidade de preservação das edificações antigas e a carência de equipamentos de ensino, saúde, assistência social, cultura. Nesse sentido, foram propostas cinco linhas de ação:
- Revitalização de uso através da reciclagem de edificações antigas;
- Dinamização cultural através da implantação de um programa de Casas de Cultura Municipais;
- Complementação cultural através da criação de museus a nível regional – Museu do Mate e Museus do Colono;
- Desenvolvimento turístico através da equipamentação de polos e do estabelecimento de um roteiro turístico das Colônias;
- Instrumentos a nível estadual e municipal – atuação do Departamento do Patrimônio Histórico e Artístico do Paraná (tombamentos, atualização constante do inventário, orientação técnica e realização de obras de reestruturação e manutenção
indicadas no inventário); criação de um Setor de Patrimônio Histórico, Artístico e Ambiental do Município de Curitiba; criação de uma legislação de proteção paisagística para a proteção da escala urbana antiga de Araucária, São José dos Pinhais e Campo Largo; isenção ou redução de imposto predial como incentivo a nível municipal;
estabelecimento de programas de financiamento municipal de obras de restauração e conservação.
As diretrizes gerais foram complementadas com propostas direcionadas a cada um dos 14 municípios, elencando ações gerais e propostas para edifícios e áreas específicos, como por exemplo, a reciclagem dos edifícios da biblioteca, da estação ferroviária e do antigo armazém de Tranqueira, em Almirante Tamandaré, a preservação paisagística do Centro Urbano de Araucária e a criação do polo Araucária (Colônias Thomaz Coelho / São Miguel) no Roteiro Turístico das Colônias; o agenciamento paisagístico da Capela do Tamanduá e das antigas pontes em Balsa Nova; consolidação dos restos da antiga capela em Bocaiuva do Sul; a manutenção do uso nos edifícios inventariados em Campina Grande do Sul; a criação do Museu do Mate a ser instalado no engenho de mate da Rondinha, em Campo Largo; criação da Casa da Cultura de Colombo; reciclagem do moinho, em Contenda; tombamentos diversos e a criação de um Setor do Patrimônio Histórico Artístico e Ambiental em Curitiba; reciclagem para uso público de edifícios de Mandirituba; conservação do conjunto ambiental de Piraquara; tombamento da casa rural da Fazenda dos Macedo, em Quatro Barras; consolidação e agenciamento paisagístico para o uso de lazer das ruínas da antiga capela do Votuverava, em Rio Branco do Sul; criação do polo São José dos Pinhais (Colônia Muricy) como parte integrante do Roteiro Turístico das Colônias.
Equipe de elaboração e execução
Aresta Construção e Planejamento Ltda.
Coordenação
Cyro Corrêa de Oliveira Lyra – Coordenador Geral
Janir Simiema Pusch
José La Pastina Filho
Maria Lucia Vianna Baptista Borges
História
Maria Ivone Bergamini Vannuchi
Teresa Furtado
Consultoria Geral
Newton Carneiro
Assessoria de História
Brasil Pinheiro Machado
Edwino Tempski
Ruy Christovam Wachovicz
Pesquisa de Campo
Arquitetura
Dalmo Vieira Filho
Elisabete França
Francisco Vaz Lino Faria
Joaquim Waltrick
José Tadeu Smolka
Luiz Fernando Braga
Maria Cristina Wolff de Carvalho
Maria Leonor Roguski
Miguel Ostoja Roguski
Sergio Fressato
Suely Barata Moutinho
Viviany Santos
Waldir Assis Filho
História
Isa Betina Jurk
Elinah Gonçalves Figueiredo
Miguel Antônio Leoni Gaissler
Nadia Vivian Rodrigues
Priscila Ribeiro Ferreira
Vera Regina Biscaia Vianna Baptista
Apoio
Maria Teresa Wolff de Carvalho
Paulo Roberto Gasparin